quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Amamentar gémeos

Amamentar é sem dúvida um conceito mágico, cheio de perlimpimpins, que parece que é tudo fácil, isto é, o bebé nasce, sabe logo pegar no peito, mama, fica satisfeito, arrota e dorme... Eu tinha um pouco a visão real pois sou enfermeira e no estagio vi que não era bem assim...mas tinha mesmo só uma ideia...!

Sempre tive presente a ideia de querer amamentar, sabia que com dois iria ser mais complicado, mas possível!
Antes de ter os gémeos comprei umas blusas com botões, o marido era um pouco cético, achava que o peito pequeno era sinónimo de pouco leite e que com 2 que não era viável.

Pois bem, eles nasceram, o parto correu muito bem, como já referi parto normal... e 2h depois vieram as graves complicações... fiz uma grande hemorragia por atonia uterina, perdi muito sangue o que me atirou para um repouso quase absoluto, para além de muito fraca, também tinha muitas dores na episiotomia (o corte que é realizado no parto por via vaginal).

Logo após o parto, vieram à mama, à vez, mas percebemos que eles não tinham nascido ensinados quanto a mamar... eram pequenos, e a mama mesmo que pequena parecia tão grande junto à carinha deles...

Sou completamente a favor da amamentação, este é o super alimento que deve ser dado sempre que possível em exclusivo até aos 6 meses.  Mas acho que é o melhor quando ambos estão bem, mãe e bebé e que não esteja a ser uma barreira na relação de ambos, em que seja gerador de stress, pois os bebés sentem tudo. Há mães que levam a questão da amamentação muito a fundo, e conseguem contra todas as expectativas manter o aleitamento materno em exclusivo, e manterem por largos anos ( a OMS recomenda aleitamento materno até aos 2 anos) mas é preciso ter muita convicção, força e sentirem-se seguras de si mesmas e do bebé...

Eu estava debilitada, fraca, e aceitei que dessem Leite Adaptado (LA) na maternidade, eles não mamavam e a Mara chegou a estar umas horas na neonatologia por hipoglicémias. Não me sentia com forças para naquele momento ser insistente com a amamentação.
Contra o que se preconiza, nunca fui contra a utilização da chucha,e dei no 1º dia aos meus filhos, a questão é que ela é uma barreira na amamentação, havendo bebés que rejeitam a mama devido à chucha e por isso ela é desaconselhada em algumas maternidades.
A verdade é que a chucha ajudou a que desenvolvessem o reflexo de sucção, teria sido melhor se conseguisse que passassem mais tempo à mama, mas a fraqueza era muita e eles eram 2 preguiçosos e malandros.

Ao 5º dia viemos para casa, utilizei mais um objecto desaconselhado, o mamilo de silicone, mas foi a forma que tive para que mamassem. Assim era uma maravilha, o objecto em si é que não me seduzia nada...era uma barreira e eles mandavam imensas vezes aquilo ao ar lolol...Fui tentando sem aquilo varias vezes mas não havia meio.

Estive para contactar uma CAM( Conselheira em Aleitamento Materno), para quem não sabe, existem conselheiras de amamentação que se deslocam a casa das mamãs e que ajudam muito com a questão da amamentação.  Frequento um grupo privado no Facebook que me ajudou bastante. Existe também  http://www.vamosdardemamar.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1&Itemid=1, tem uma linha de apoio para qualquer dúvida.
Eles vieram para casa com LA e maminha, quando um mamava o pai dava o biberão com LA ao outro, comecei a tirar com a bomba após cada mamada para esse leite puder ser dado no biberão enquanto eu dava mama, mas a rotina com os gémeos era esgotante, tínhamos de dar de comer de 3h em 3h para aumentarem de peso ( fazíamos um intervalo de 3h porque bebibam LA, o que vinha à mama por vezes tinha fome mais cedo e dava mama novamente.) Quando terminávamos de tratar dos 2 sobrava 1h para voltar a repetir tudo de novo, mudar fralda, dar mama ou LA, pôr a arrotar, tirar leite com a bomba...
Porque não dava aos 2 ao mesmo tempo? Porque a Mara engasgava-se muito, era muito trapalhona e eu stressava, preferia dedicar aquele tempo a cada um, também experimentei dar mama a um e depois mama a outro invés de ir à bomba, mas enquanto o pai estava para ajudar era uma grande ajuda, daí ter optado por tentar tirar com a bomba.

Quando pensei em contactar a CAM para tentar retirar o LA e mamilo de silicone.. 12 dias após o parto fui novamente para a urgência com uma grave hemorragia, aí tive muito medo...
Estive 24h internada ( fiz 2 transfusões, no pós parto já tinha feito 3) e ai vim para casa com indicação para repouso, 0 esforços...não podia tratar deles, apenas dar miminho e maminha se possível deitada para não fazer força na barriga...
Até terem mês e meio foi muito complicado para mim, sentia-me uma espectadora, numa fase que passa tão rápido... tudo passa demasiado rápido...mas aquela recuperação parecia tão longa e interminável...
Então deixei tudo como estava, LA alternado com Leite Materno (LM) para eu puder ter algum repouso, o medo que tudo se repetisse era imenso...pois tive muito medo de não voltar a vê-los...

Se foi fácil? Não... as mamas encaroçaram, para alem de acordar para dar de comer tinha de massajar o peito para dissolver caroços, colocava toalhas quentes antes da mamada, toalhas frias depois, tirava leite para guardar quando por algum motivo não estivesse e para ajudar a aliviar o outro peito,..foi muito complicado aliado ao cansaço. Tinha receio de uma mastite (inflamação de gladulas mamárias), fiz imensas feridas/gretas por eles serem muito trapalhões,mas depois já não chamei ajuda, ficava sempre para amanhã e ia passando...
Usei mamilo de silicone até terem 3 meses, fui sempre tentando retirar até que consegui.
Como estavam a LA começaram a alimentação complementar (sopas e papa) aos 4 meses, mas continuaram a mamar e assim foi até as 7 meses, que foi quando começaram a rejeitar por eles, viravam a cara, empurravam, choravam...insisti um tempo, até que me rendi às evidências...Mas custou-me aceitar... ao inicio foi difícil implementar a amamentação pois foi doloroso, o cansaço era muito, mas foi possível, quando deixaram de mamar, foi um momento difícil
para mim, pois adorava aquele momento só nosso...foi o cortar de outro cordão umbilical...

A questão da amamentação tem muita falta de informação espalhada por aí... e muitas crenças antigas que faz com que muita gente fale sem saber, deixando a mãe stressada e insegura... até pediatras que ainda falam em dar de mamar de 3h em 3h... amamentar não tem horários, não tem tempos definidos...quem define é o bebé, quando quer quanto quer, chama-se Livre Demanda. Existem picos de crescimento que fazem com que o bebé peça mama mais vezes, mame mais tempo e pareça que nunca está saciado, mas ao fim de dias passa e restabelece o padrão, esses picos servem para aumentar a produção de leite face ao crescimento do bebé... o corpo humano é maravilhoso e nada é ao acaso.

O importante é a tomada de decisão consciente, e que faça a mãe sentir-se bem consigo e com a maternidade...e ignorar comentários alheios de pessoas que acham que sabem sem saber...
Gostava de ter amamentado em exclusivo mas não o fiz,as complicações não ajudaram e depois mantive esta forma de alimentar os meus bebés pois foi o que se adaptou a nós e à minha sanidade mental.

 Em relação à almofada de amamentação, utilizava as vezes mas sem grande eficácia, o peito pequeno fazia com que tivesse de me curvar um pouco então acabava por dar sem o apoio da almofada,

Em relação ao pudor...amamentei onde fosse necessário...a maldade está na cabeça das pessoas, de quem vê a amamentação como um acto de exposição e não como necessidade. Ha sempre formas de atenuar a exposição da mama para quem não se sente à vontade, eu por vezes utilizava uma fraldinha, mas recusava-me a tapar a cara deles pois amamentar requer o contacto visual entre mãe e filho. Quem tivesse mal paciência!

Aqui estão as informações sobre como deve ser o aleitamento materno: http://www.leitematerno.org/oms.htm


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